"Se não suportam a realidade, mudem de conversa"
Paulo Portas amarrou esta sexta-feira os socialistas ao legado de José Sócrates, vincando, no discurso que encerrou o debate na generalidade sobre o Orçamento do Estado para 2015, que "ou o PS revê o seu passado ou será sempre suspeito de querer repetir a receita e a desgraça" a que o país chegou em 2011, com o pedido de ajuda financeira. E, acenou, "assustará terrivelmente a classe média".
O vice-primeiro-ministro ensaiou, assim, um discurso que antecipa o próximo ano eleitoral, para o qual a maioria PSD/CDS está já a colar a liderança de António Costa à do anterior primeiro-ministro 'rosa'. Pelo meio, reduziu o presidente da Câmara de Lisboa a um "líder de transição" e insinuou que os socialistas ainda suspiram pelo regresso do seu "grande líder", referindo-se, claro, a Sócrates.
Quanto ao Orçamento, Portas assinalou que este é "diferente dos outros do ciclo da troika", embora tenha ressalvado que o executivo não está "para aventuras" e não pode fazer, logo após o fim do programa de assistência económica e financeira, "um Orçamento anti-troika".
Daí, citou o escritor argentino Jorge Luis Borges para exigir à oposição - com os olhos postos no PS - uma mudança de posição. "Se não conseguem suportar a realidade, pelo menos mudem de conversa."
Numa toada de constante comparação entre a realidade do país em 2011 e a que agora se verifica - falou de liberdade, soberania, dignidade e credibilidade para enaltecer o trabalho do governo -, o presidente do CDS notou que "não se sabe o que pensa o PS" em relação a matérias como a consolidação orçamental ou a dívida. "É pouco e é pena", resumiu.
Antes disso, o líder parlamentar socialista, Ferro Rodrigues, também recuou ao consulado anterior para tecer elogios a Sócrates e refutar responsabilidades no pedido de ajuda à troika. "Já com eleições marcadas, [os senhores] prepararam, incentivaram, instigaram, exibiram, negociaram, prepararam e comemoraram o memorando de entendimento. Um pedido de ajuda contra o qual muitos se bateram até aos limites das suas forças e possibilidades. E aqui há que salientar uma pessoa, um nome: José Sócrates."
"Passado" foi uma palavra a reter da intervenção, até porque o último secretário-geral do partido foi evocado. "O PS também avisava, já nessa altura [há dois anos], pela voz de António José Seguro, para as consequências da política orçamental [do executivo]", atirou para destacar que o governo está "dividido" e desprovido de "credibilidade".
Assim, fez um aviso para o futuro e sublinhou a legitimidade popular de António Costa face à atual maioria. "O país tem um candidato [a primeiro-ministro] sufragado por 170 mil socialistas, militantes e independentes, numa mobilização cívica nunca vista num processo partidário. E os senhores? Onde está o vosso apoio? O que é feito da base social que vos elegeu?", questionou a rematar.